Entrou em casa
largando o molho de chaves pesado sobre a mesa de vidro e suspirou. Sentia-se tão frágil. Sentiu os olhos se
enchendo de lágrimas sem nem saber o porque. Só sentia aquele algo vindo de dentro de si, um grito que
estivera entalado tanto tempo, guardado em sua alma e agora se liberava, na
forma das gotas que lhe escorriam pelo rosto como facas.
Ouvia as vozes
dos parentes vindas de outro cômodo, ouvia a forma como riam, como pareciam
desfrutar dos momentos e apenas se esquivou, entrando em seu quarto
rapidamente, caminhando como um vulto, sem nem sequer ser notada por eles, de
tão absorto que estavam em sua própria felicidade.
Fitou-se no
espelho do quarto e só pôde sorrir amargamente. Era uma sombra, um resquício ridículo do que um dia fora e
simplesmente não sabia o que fazer. Sentia-se tão sozinha, tão abandonada que até
mesmo respirar se tornara difícil. Quando
as coisas haviam se tornado assim? Quando tudo se tornara tão pesado?
Quando viver havia se tornado um tormento e não mais uma benção?
Não sabia
precisar, só sabia que toda a magia que seus dias outrora tinham estava sumindo
pouco a pouco, escapando-lhe entre os dedos, sem que pudesse agarrar. Deixou o
corpo se encostar na parede e lentamente caiu, chegando ao chão em alguns segundos.
O lápis já borrado, manchando o rosto bonito que sempre havia sido adornado por
um sorriso. Um sorriso radiante e lindo. Que havia simplesmente... Se perdido por aí.
Abraçou os
próprios joelhos sentindo o peito arder. Ah
a dor... A rotineira companheira, antes aplacada por coisas banais, que
agora matava-a pouco a pouco, tirava suas forças e apenas dava um jeito de
tornar tudo pior. Cerrou os olhos com força e se escondeu, encolhendo-se tanto
como se quisesse sumir, sabendo que isso não era possível. Doía tanto! Doía tanto estar só!
Não chore!
Uma voz fina e
doce pode ser ouvida e ela então conteve os soluços por algum segundo. Quem era? Perguntou ainda escondida de
si mesma e sentiu um carinho delicado em seu cabelo preto, um afago delicado
repleto de amor.
Lentamente, a dor
foi passando e suas lágrimas foram cessando, secando enquanto aquela tempestade
dentro de si se acalmava, a tsunami se tornando uma marola agradável, daquelas
gostosas de se sentir a beira-mar. Devagarinho abriu seus olhos encontrando uma
garota baixinha com bochechas gordinhas que ela teve vontade de apertar,
sorrindo-lhe genuinamente enquanto estendia sua mão pequena em sua direção.
E então mesmo sem
entender muito bem pegou a mão da menina, sentindo quando ela a puxou para
cima, fazendo-a se levantar. A garotinha, que ainda segurava sua mão fez com
ela se virasse na direção do espelho apontando com o dedo pequenino a imagem
para que ela própria pudesse ver.
E novamente seus olhos se
encheram de lágrimas.
No espelho, quase
como se fosse uma foto ela estava lá, cercado de todas as pessoas que lhe
amavam, que lhe amparavam e lhe ajudavam a se reerguer, segurando-a para que
não caísse novamente. Prendeu um soluço
profundo e apertou os dedos pequenos contra os seus, fitando a garotinha que
continuava com um sorriso no rosto para logo em seguida abraçá-la com toda
força que podia, separando-se apenas para perguntar seu nome. Notando que ela simplesmente não estava mais
lá.
E quando decidiu procurar pela mesma sentiu algo
duro contra o rosto, reclamando de dor ao notar que caíra da cama, aonde
provavelmente adormecera. Fora tudo um
sonho? Apenas um sonho? Respirou fundo e antes que pudesse entender melhor
a situação viu o quarto sendo invadido por sua família e amigos que lhe
parabenizavam, enchendo-a de amor, carinho e proteção enquanto a última frase
que ouvira da menininha ecoava em seus ouvidos.
Não duvide jamais que você é
especial .
I wanna dance the night away with you
I wanna love because you taught me to
I wanna laugh all your tears away
I wanna tell you and this is the only way I know
And hope one day you’ll learn the words and say
Ficou uma bosta mas é pra você menina, pra você saber o quanto você é especial. *u* ~Yá