Paradise

Posted by Carol Riff On 9.6.13 0 comentários
Corria pelo campo florido, os pés descalços tocando a terra e a grama, os cabelos balançando ao sabor do vento. Sorria. Feliz como nunca antes. Sorria. Enquanto rodopiava e assoprava os dentes de leão , gargalhando com vontade quando a flor se desfazia em mil pedaços que voavam pelo ar. Se sentia livre. Maravilhada com todas aquelas cores e sons.

O olhar infante e curioso passeando por todos os lugares

               
                Ainda rindo, deixou-se cair no chão, apreciando o céu azul do seu pedaço de paraíso, tão colorido e musical. Observou as nuvens branquinhas e o céu azul fechando os olhos levemente com o pensamento de que poderia ficar pra sempre ali, e de fato poderia.
Sem perceber, caiu no sono, somente acordando muitas horas depois com um leve pingo gelado da chuva em seu rosto.

                Ergueu-se assustada, o céu agora cinza e trevoso e a música substituída pelo sons dos trovões que ribombavam, o que havia acontecido? Em um átimo a chuva veio forte, os pingos grossos e gelados caindo sobre todo o lugar, fazendo estrago.  Com frio, fitou as próprias mãos, percebendo com espanto que elas perdiam a cor, que lhes escorria como tinta. O que estava acontecendo?

                Com o coração martelando olhou em volta, sentindo os olhos marejarem ao notar que todo o lugar perdia sua cor, o brilho em seu olhar se apagando lentamente, a chuva levando embora sua felicidade infante e inocente. Porque aquilo estava acontecendo? As lágrimas se misturaram à água que vinha do céu, caindo sem parar enquanto ela perguntava para os céus porque as coisas tinham de ser assim?

Porque tudo não poderia ser bonito sempre?

                Por que justo com ela? Justo com seu lugar tão especial e bonito? O que ela havia feito de errado para que aquilo acontecesse? Chorou alto, a dor se espalhando por todo lugar. Sentia-se cinza, invisível, insignificante. A vida havia se tornado cinza. Caiu de joelhos, abraçando o próprio corpo, caindo lentamente até estar deitada na outrora verde grama, as lágrimas ainda abandonando seus olhos enquanto ela pedia baixinho para as coisas voltarem ao normal.

                Seus olhos fecharam-se lentamente, o coração cada vez mais devagar como se estivesse desistindo, a alma drenada sem que ela soubesse por quê. Até que tudo mudou. Em um novo átimo, num último piscar, seus olhos captaram a cor, se abrindo ávidos e desesperados e ela viu. Viu a borboleta azul que praticamente reluzia na paisagem cinza, parada imponente sobre um tronco, como se estivesse realmente se exibindo.

                Tirando forças não sabia de onde ela se ergueu, as roupas sujas de lama não fazendo nenhuma diferença. Algo dentro de si a compelindo a correr atrás do pequeno animal que agora voava em direção a um nada mais cinza que todo o resto. E ela não teve dúvidas, apenas começou a correr.

E correu, correu, correu. Os pés afundando na lama, se tornando mais pesados e difíceis, cada vez mais difíceis, o barro se agarrando aos seus pés tentando parar seu movimento enquanto ela apenas fazia mais força e se obrigava a ir a frente. Algo lhe dizia pra ir em frente. O pequeno animal voando logo à sua frente, embrenhando-se entre árvores e retornando, sem qualquer rumo.

A menina se sentia cansada, mas se recusava a desistir. Tinha que alcançar a borboleta! Por quê? Nem ela sabia explicar. O ar faltava e as pernas reclamavam, mas ela continuava com as mãos estendidas seguindo em frente, chamando a bela azulada que parecia executar uma dança no ar, com total leveza e graciosidade.

Demorou um tempo para que finalmente alcançasse o animal, pegando-a entre seus dedos trêmulos com cuidado para não lhe machucar, sorrindo ao ver sua cor azul brilhar. Fitou novamente o horizonte cinza que se estendia à sua frente e sorriu, notando que a chuva diminuía cada vez um pouco mais.

Nenhuma tempestade era infinita, certo?

                Ainda com o animal entre os dedos pôs-se a caminhar, a inocência deixada um pouco para trás enquanto ela apena sorria levemente, decidida sobre o que fazer. Quando o sol finalmente voltou a sair no céu ainda cinza, tocando sua pele de leve, ela tomou uma decisão. Uma que mudaria todas as outras.

Não gostava de cinza. E não deixaria as coisas assim.

                Com um sorriso travesso no rosto, soltou o animal, vendo quando este voou gracioso ao seu redor. Gargalhou novamente ao notar o estado de suas roupas e imaginou o estado de seu cabelo, levando a mão até o mesmo só para perceber que ele estava todo bagunçado. O que importava? Baixinho, assobiou uma música que gostava, dançando-a de olhos fechados. Os sons retomando ao lugar enquanto as cores pareciam voltar. Coloria o lugar com sua alma de volta.

Coloria de volta seu paraíso.

                Quando voltou a abrir seus olhos, nada parecia como antes. O cinza lentamente se transformava em cor e a música baixinha continuava tocando, como se aos poucos ganhasse força para voltar. Riu novamente, a risada ecoando por todo o lugar, reverberando dentro dela mesma e foi aí que ela finalmente entendeu.

Não importava se a tempestade levasse as cores do seu paraíso embora.
Ela sempre poderia voltar a colori-lo, bastava que estivesse disposta a cair e se levantar.


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The Pain I'm going through

Posted by Carol Riff On 28.4.13 0 comentários
Eu normalmente venho aqui com algum texto, alguma história que seja capaz de traduzir algo que eu estou sentindo, é prático e costuma ser o meu melhor momento de escrita, exatamente quando as coisas saem direto do meu coração, quando não preciso fingir que sinto coisas que não sinto ou me colocar no lugar de quem quer que seja pois afinal escrevo sobre o lugar que eu mesma sou capaz de ocupar. A questão é que as vezes, as palavras ditas de forma crua, sem estarem escondidas ou mascaradas são necessárias, e nesse momento eu preciso mais do que nunca externar isso para algum lado, mesmo que seja numa página abandonada pelo mundo, algo que ninguém lê. É preciso expurgar a dor que eu estou sentindo, nem que seja um pouco.

A verdade é que eu estou cansada, como um soldado que volta da guerra, como alguém que perde as esperanças aos poucos, uma peça metálica que perde seu brilho pouco a pouco. A diferença básica é que quando algo perde seu brilho logo se vê e o meu sofrimento está aqui, entalado dentro de mim, preso em um canto do qual eu não posso deixá-lo sair. O motivo? Simples. Já ouviu falar em 'efeito dominó'? Pois é, se um cai todos caem e teoricamente eu deveria ser aquela com maior resistência por ser  a mais nova mas curiosamente não sou feita do mesmo aço do qual minha mãe ou pai são feitos. Me sinto frágil como um metal qualquer, um fio de cobre que se dobra a qualquer coisa mas que ainda assim tenta se manter de pé.

Não é fácil e eu sinto como se a chama da minha esperança se apagasse mais e mais a cada dia. Eu tenho 19, mas a vida pesa sobre meus ombros como se eu fosse muito mais velha, ela me derruba e ri na minha cara e cada vez mais eu tenho menos força pra levantar. Menos força porque por mais fé que eu deposite na teoria de que "As coisas vão melhorar" elas não tem realmente melhorado. Na verdade, eu poderia dizer que elas tem piorado e nem toda 'união de família' que eu costumo me orgulhar parece ser efetiva. Vai lá tentar pagar contas com 'união de família' que você entenderá do que estou falando. Nós trabalhamos e trabalhamos e nada parece dar jeito, como se de uma forma louca ainda tivéssemos que passar por mais provações do que as que já tem aparecido em nosso caminho.

Me vejo ainda mais desmotivada ao notar pessoas reclamando de coisas simples enquanto eu desmorono por dentro. Ninguém tem culpa, afinal, do meu azar ou de tudo que acontece, mas dói pensar que um tanto de gente 'má' por aí vive bem enquanto eu e meus pais que lutamos com todas as nossas forças continuamos na mesma situação de merda. Andando pra lugar nenhum, com perspectiva de nada. Veja bem, eu amo meus pais, amo minha vida mas morro por dentro cada vez que vejo no olhar deles o nervoso por não saber como será o dia de amanhã.

Acima de tudo, eu tenho medo, medo de mim, da vida, de tudo que ainda vem por aí e que me sufoca só de pensar, de tudo que ainda vamos ter que enfrentar. Eu só queria que as coisas dessem um pouco certo, será que é pedir demais? Ter um pouco de conforto, só um pouco... Eu só sinto que não aguento mais dor, que não aguento mais a mim mesma, mesmo que ainda me mantenha de pé, segurada por algo que nem eu sei o que é. Só precisava dizer...

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Coming Home

Posted by Carol Riff On 2.3.13 0 comentários

Os passos hesitantes ecoavam pelo silêncio na noite, o vento gelado sacudindo a poeira que se acumulava no chão, quantos séculos fazia desde que havia estado ali? Limpou como pôde a sujeira do rosto, sentindo um frio na barriga ao qual já estava acostumado, mas do qual ao mesmo tempo tinha saudade. Era um calafrio bom que percorria sua espinha. 

Fechou os olhos, se arrependendo imediatamente ao ouvir o barulho das explosões e dos tiros, o cheiro do sangue -agora seco- invadindo suas narinas e trazendo a sensação de náusea de volta, sensação essa que ele suprimiu, faltava pouco... Tão pouco! 

Deu mais alguns passos, a janela acesa já sendo detectada por seus olhos, longe, quase no horizonte, mas estava ali, como a muito ele não via. As cartas que ela mandara firmemente seguras entre seus dedos sujos, que também seguravam às de seus companheiros. Tantas vidas perdidas. A dor e o horror voltando de uma vez só, fazendo seu corpo inteiro tremer e novamente ele suprimiu as lembranças que insistiam em lhe assombrar, faltava pouco...

Já podia ver sua casa quase toda agora e logo sentiu a vista embaçar, tantas emoções aflorando juntas que ele apenas não conseguia controlar. Esperara tanto! Orara tantas vezes aos céus para que estivessem bem! Olhara tantas vezes para as estrelas sonhando que um dia estaria entre eles novamente, entre as risadas infantis que tanto amava. Entre os braços delicados com que tanto sonhara. 

Temera tantas vezes que -assim como os companheiros- dele só restasse uma carta com meia dúzia de palavras que jamais seriam capazes de expressar o quanto sentia saudade de casa. Temera terminar morto, afogado em seu próprio sangue ou até mesmo louco, sufocado por sua moral que escorria pelo ralo cada vez que um gatilho era apertado. Era desumano, era doloroso e acima de tudo injusto. Só podia rezar e pedir a Deus para lhe perdoar.

Como afinal determinar o lado certo de uma guerra?

E quando finalmente estava diante de sua casa, deixou-se cair de joelhos no chão. As lágrimas rolando pesadas por seu rosto, a fraqueza que ele tanto escondera finalmente aparecendo, sugando-o. Suas forças esgotadas , sugadas pelos horrores da guerra. O sofrimento corroendo a alma já ferida enquanto a voz aumentava mais e mais, como um grito doloroso de uma mãe que perde seu filho.

E ela, -ah... que saudade dela!-  o ouviu.

Não soube como, nem porque, mas simplesmente ouviu-o, os pratos que carregava indo ao chão, o cachorro velho se levantando e começando a latir enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. Correu para a porta, abrindo-a sem mais demora, sentindo o chão voltar a estar sob seus pés novamente, pois há muito havia sido lhe tirado. 

Correu, novamente correu, com tudo que pode, as crianças berrando atrás de si e acompanhando seu passo enquanto ela simplesmente se jogava contra o corpo forte que se sacudia em soluços violentos e ela o agarrou, apertando-o contra si com tudo, as lágrimas agora rolando por seu rosto alvo que se sujava contra a pele dele. Não muito depois os lábios se encontraram, a saudade tornando o momento mágico, quase irreal. O amor que os unia crescendo tanto que poderia engolir o mundo.

Logo as crianças vieram, escondendo-se atrás dela, temerosas com o "estranho" sujo que sua mãe abraçava tanto tempo... Ele as fitou, e elas finalmente entenderam quem estava diante de si, jogando-se contra o homem sujo, quase atirando-o no chão. E ele não se importou... Abraçou-as com força, com a mesma força com a qual jurara voltar vivo, aquela mesma sofrível, desesperada.

Sentiu novamente os braços dela ao seu redor e sorriu de forma verdadeira, pela primeira vez depois de muito tempo, falando baixinho para os três que significavam sua vida:

"Depois de todo esse tempo eu estou voltando pra casa para vocês"

Porque não importava o que ele fizera, nem o que deixara de fazer, podia demorar o tempo que fosse, mas ele sempre voltaria para sua casa, para seu lar, para o lugar aonde seu coração escolhera morar.




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Kitto kawarazu aishiteiru

Posted by Carol Riff On 22.2.13 0 comentários


Esse é um texto diferente dos meus habituais. Não conta uma história, como os outros -Bom, talvez no final das contas acabe contando uma história, mas que é totalmente verídica e eu sou assumidamente uma personagem e...-, na verdade, eu o vejo como uma confissão, uma constatação que eu venho tendo faz tempo e da qual não posso simplesmente fugir.

Se a algum tempo atrás alguém me perguntasse se eu acredito em amizade virtual, eu responderia categoricamente que 'não', sem nem pensar duas vezes. Mas, se alguém me faz essa pergunta agora, eu me vejo simplesmente sem saber o que responder. Eu venho pensado muito nisso esses dias (Talvez eu esteja mais gay de tanto ouvir Angel, ou não, vai saber) e sou obrigada a dobrar minha própria opinião... A abrir um buraco por onde raras exceções passam porque venho sentindo coisas que jamais julguei sentir -As exceções mais maravilhosas que podiam me aparecer-.

A questão é que mesmo sem conhecer fisicamente eu fui fisgada, por uma das melhores pessoas que já encontrei na vida. E o que eu sinto é tão doido que eu nem consigo explicar direito. A vontade que eu tenho de me deslocar os milhões de quilômetros só pra abraçar ela é simplesmente insana e eu já perdi a conta de quantas vezes eu simplesmente quis chorar por não pode fazer mais nada além de digitar uma meia dúzia de palavras bonitas que apesar de expressarem minha opinião, jamais se comparam a um abraço.

É estranho, mas sempre que chego em casa e venho para o computador, espero encontrá-la, nem que seja para conversar por alguns poucos minutos, pra contar um pouco do meu dia e para ouvir do dela, pra ver se ela está feliz e ficar tranquila. É engraçado e talvez poucos entendam, mas toda vez que falo com ela, sinto o peito ficar quentinho, sabe? Aquele calor bom de quando você 'tá' com uma pessoa que você gosta?

E mesmo que o nosso 'estar' seja um tanto inusitado, ele me deixa feliz. Me deixa preocupada também, por ela ser simplesmente boa demais para as pessoas ao seu redor. Não no sentido de ser melhor que os outros -Não conheço ninguém, como julgar?- mas no sentido de ser bondosa, o tipo de pessoa que não faz mal a ninguém mas no entanto é julgada por ser quem é. E isso dói, de uma forma insana, em mim. Dói em mim não poder fazer nada, dói em mim não estar lá pra gritar com fulanas e outros que eles são uns idiotas porque estão deixando de conviver com uma pessoa maravilhosamente fantástica.

Fantástica sim, talentosa, esforçada e forte, mesmo que na maioria das vezes ela duvide disso, mas ela é. Puta forte. É um amor, uma menina de ouro que merecia muito mais amor. Que merecia todo o amor do mundo! Todo mesmo! Alguém que me deixa feliz com pouco, que mesmo sem saber me levanta quando eu estou simplesmente cansada demais para me segurar, mesmo sem saber você faz muito por mim -Além de quase me fazer chorar cada vez que faz uma declaração gay, que me deixa mais gay ainda. 

É a menina do sorriso gengival mais biito do mundo, alguém que eu admiro, do fundo do coração. Minha jóia de ametista com coração de ouro  Alguém porque quem eu cantaria mil raps em coreano -O que fica extremamente ridículo como já foi previamente comprovado-, por quem eu decoraria mil danças -Até aprenderia a dançar!-, por quem cataria mil conchas na areia e por quem eu venceria todas as minhas vergonhas só para mostrar o quanto você é especial. Te amo, de novo 




Ashita anata no kimochi ga hanarete mo
Kitto kawarazu aishiteiru
Ashita anata ni boku ga mienakute mo
Kitto kawarazu aishiteiru
I will walk together, the future not promised yeah
It keeps walking together, to the future in which you are
Cassis - the GazettE 
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Efêmero

Posted by Carol Riff On 28.12.12 0 comentários

Observava-o de longe, os olhos claros transbordando devoção, tão grande que chegava a ser proibida, doentia. Seus olhos não largavam a figura dele, não deixavam-no ir. A figura frágil do garoto apanhando lhe ferindo a alma e incitando a raiva e o ódio que seu ser angélico jamais deveria ter.
               
Queria protegê-lo, mas não somente, queria mais. Queria abraçá-lo, amar aquela existência que fizera da sua tão mais viva, queria mais. Queria, como nunca antes cometer um pecado, se sujar no fel daquele ser, unicamente por amor. Queria mais.
               
Era um escolhido de Nathaniel, escolhido a dedo pelo próprio luminoso, que estava perdendo sua luz, apagando-se pouco a pouco. Como uma tela branca que se torna turva, sua pureza sendo maculada a cada segundo, sem que, pudesse evitar. Sua natureza havia sido cruelmente alterada pela magia mundana daquele ser, daquele humano, daquela alma sofredora que lhe cativava sem saber

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas...

                Mas ora, como poderia um humano ser responsável por seu próprio anjo da guarda? Onde já se viu tamanha heresia?!  Era um anjo, da casta dos mais puros e inocentes, mas, no entanto, estava caindo. Se rendendo, se corrompendo e pecando. Seria tão grave assim seu pecado? Pensou por um milésimo de segundo e no instante seguinte pedia perdão por ser fraco, as lágrimas escorrendo por seu rosto enquanto seus joelhos tocavam o chão, em seu último ato de submissão. Sua luz cada vez mais fraca enquanto as lágrimas caíam no chão. Sua luz sumindo... Até que simplesmente se apagou.
                Aquele foi o último tapa, o último golpe que o agressor desferiu contra seu protegido, pois no instante seguinte tudo era fogo e o fogo se tornara tudo, consumindo e queimando o corpo daquele que agora gritava. Seus olhos estavam tingidos, de vermelho-sangue do ódio e seu coração chorava baixinho por sua corrupção, mas não importava.

                Virou-se, o calor das chamas não lhe afetando e apenas fitou seu precioso, encolhido contra a parede, tremendo de medo de tudo que estava acontecendo. Abriu os braços, o vermelho dos olhos sumindo e dando lugar ao seu azul tão acalentador, sorriu para aquele ser maravilhosamente sujo em um chamado delicado, em um “Está tudo bem” que não precisava ser proferido.

                Suspirou ao sentir o calor dele no seu e abraçou-o, tão forte quanto era capaz. E em seguida chorou, de amor, de tristeza e de felicidade. Suas lágrimas trazendo paz àquela alma tão atormentada. Porque tinha que ser assim? Pensou enquanto apertava-o mais contra si, querendo gravar em sua essência cada centímetro de pele daquele ser, querendo fundi-lo a si para jamais o perder. Pena que seu tempo era tão curto.

                Era um caído e como tal seria destruído em breve, enviado ao inferno como assassino que era, mas naquela hora não se importou. Naquela hora, só lhe importava a respiração calma que batia contra sua pele e o sorriso doce que tomava os lábios daquele ser em seus braços. Naquela hora só importava que aquela criatura frágil sentisse seu amor, que se alimentasse dele, que se purificasse nele. Seu intenso, proibido e acima de tudo efêmero amor.

Pois este não tardaria a sumir. 
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