simple thing.

Posted by Carol Riff On 12.11.13 0 comentários
Os pés descalços caminharam pela terra infértil, ouvindo o chão seco e sofrido estralar. Ao longo, podia-se ouvir o crepitar do fogo que terminava de consumir o que um dia fora uma árvore bonita e verde.  A menina fitou ao redor, sem conseguir mensurar até onde se estendiam os destroços daquela civilização.

Os machucados no corpo ardiam e o calor que turvava visões só fazia tudo piorar. Ela se sentia sozinha, andando no meio de uma cidade fantasma, com a roupa rasgada e os cabelos desgrenhados demais para pentear. Não restara muita coisa. Não havia porque pentear, no final das contas. Não havia motivo algum para se preocupar com aquilo.

O corpo fraquejava e ela deixou-se cair no chão formado por pedras e areia, sentindo a exaustão castigá-la com muito mais força do que podia suportar. Quando aquilo havia acontecido? Tudo havia sido tão rápido! Tão rápido a bela cidade havia virado pó! Tão rápido havia sumido naquela nuvem enorme e multi-colorida de poeira!

Ela se lembrava, de estar andando e de ter tudo, e de repente o tudo se transformar em nada, como um castelo de cartas que sucumbe a força dos ventos. Ela era a última carta. A última de muitas que haviam sucumbido. A última de muitas que queimavam e se perdiam entre os destroços, banhando-os com sangue e dor. Era desesperador. Ela não sabia para onde ir. Para aonde se vai quando lugar nenhum é lugar?

Ela fechou os olhos e deixou a imaginação voar. Sonhou com a grama verde e com rostos conhecidos e sorridentes, que haviam ido embora, sonhou com bichos e o canto dos pássaros, que haviam se perdido no crepitar do fogo, sonhou com sua casa, que não passava de pedaços no chão e por um segundo, apenas um segundo transportou-se para esse mundo bonito que criou, permitindo-se sorrir, feliz. Tão feliz que nem sentiu-se dormir e afundar, numa escuridão densa o suficiente para não voltar.

Tempos dois, quando a coragem se fizesse mais forte que a covardia, outras pessoas a encontrariam ali, no mesmo lugar aonde havia se deixado estar, com o mesmo sorriso que sorrira antes de deixar de estar naquele lugar. Com o mesmo sorriso provocado pela felicidade extrema que se permitira sentir.

Com a felicidade que criara, em seus últimos segundos, para guardar toda uma vida que não chegara a ser toda, que dirá a metade.





A felicidade está nos olhos e no coração de quem a vive.

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