Brave Heart

Posted by Carol Riff On 2.12.11 0 comentários
Mordeu a ponta do lápis pela vigésima vez, fitando o papel rabiscado, as formas retilíneas se duplicando em seu olhar. Sacudiu a cabeça e tomou um pouco da água que comprara, o coração batendo a mil, tão rápido que poderia enfartar ali mesmo. Riscou mais uma vez a folha branca, notando como a linha saía tremida, como alguém que se equilibra em uma corda bamba, sem nunca achar um ponto fixo.

Suspirou novamente, o medo lhe subindo pela garganta, rastejando por sua pele e roubando-lhe a energia. Olhou para os lados, onde um menino rabiscava com traços firmes sua folha de papel, produzindo aquilo que ela chamaria de obra de arte. Se sentia como um peixe fora d’água e de repente, sem que percebesse os pensamentos que ela havia reprimido por tanto tempo assaltaram sua mente.

E se todos os desenhos fossem daquele nível? Se todos que ali se encontravam desenhassem infinitamente bem? O que poderia ela fazer com seus rabiscos tímidos e desenhos pequenos? Teria ela forças para lutar? Seu medo se tornando um gigante, ameaçando lhe pisar.

O medo ria em sua face, desdenhoso, enquanto se enroscava mais e mais em seus dedos, os movimentos parando pouco a pouco, a garganta secando e uma estranha vontade de chorar aparecendo nela. Estava entregue ao próprio desespero, amarrada por suas amarras invisíveis quando ouviu aquela voz. Acalme-se; Despertou de seu transe, olhando para os lados. Quem havia dito aquilo? Olhou para o papel novamente, as idéias antes trancafiadas voltando com força, um sorriso doce nascendo em seus lábios.

Quem estava rindo agora? Quem estava paralisado? Ela começou a balançar os pés, que não alcançavam o chão, animadamente, cantarolando uma de suas músicas favoritas. O menino ao seu lado lhe fitando com estranhamento. Ela apenas retribuiu o olhar e sorriu, virando de leve a cabeça para em seguida retomar seu desenho tímido. Podia ser tímido, mas era correto;

As pinturas produzidas ao seu lado não mais a assustavam e de repente o medo de tornou um garotinho desprotegido, que até uma pequena garota como ela poderia enfrentar. Sorriu novamente, fitando o medo encolhido no chão, tão pequeno e frágil. Ergueu uma das mãos, pronta para acabar com tudo, até que percebeu algo.

A mão antes erguida e fechada se abaixou, abrindo lentamente até que estivesse na frente do ser encolhido que olhou para a menina de forma curiosa, notando que uma aura dourada e forte a rodeava. Logo reconheceu a dona de tal aura, a coragem que lhe sorria espoleta, como uma criança que desafia a outra para brincar. Ergueu-se furioso, querendo gritar com aquela abusada que se achava melhor do que ele, e se deparou com um sorriso acompanhado de uma mão estendida.

Eu te aceito, disse a menina, porque você faz parte de mim e não existe a coragem sem o medo. O menino piscou algumas vezes, até olhar nos olhos da menina dourada e entender. Um precisava do outro para existir. Ainda com a expressão fechada, aceitou a mão e imediatamente a menina desenhista sentiu-se leve.

Abriu os olhos, fitando seu desenho de novo, a coragem crescendo em seu peito, quase como a alegria de uma criança e no fundo ela sabia. Coragem estava alegre, pois ela mesma havia superado seu medo, o aceitado e entendido que não devia ser dominada por ele. Que era ela quem estava no comando, por mais que ele existisse.

Porque coragem não era não ter medo e sim ser capaz de continuar andando mesmo que este tente lhe parar.

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