Efêmero

Posted by Carol Riff On 28.12.12 0 comentários

Observava-o de longe, os olhos claros transbordando devoção, tão grande que chegava a ser proibida, doentia. Seus olhos não largavam a figura dele, não deixavam-no ir. A figura frágil do garoto apanhando lhe ferindo a alma e incitando a raiva e o ódio que seu ser angélico jamais deveria ter.
               
Queria protegê-lo, mas não somente, queria mais. Queria abraçá-lo, amar aquela existência que fizera da sua tão mais viva, queria mais. Queria, como nunca antes cometer um pecado, se sujar no fel daquele ser, unicamente por amor. Queria mais.
               
Era um escolhido de Nathaniel, escolhido a dedo pelo próprio luminoso, que estava perdendo sua luz, apagando-se pouco a pouco. Como uma tela branca que se torna turva, sua pureza sendo maculada a cada segundo, sem que, pudesse evitar. Sua natureza havia sido cruelmente alterada pela magia mundana daquele ser, daquele humano, daquela alma sofredora que lhe cativava sem saber

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas...

                Mas ora, como poderia um humano ser responsável por seu próprio anjo da guarda? Onde já se viu tamanha heresia?!  Era um anjo, da casta dos mais puros e inocentes, mas, no entanto, estava caindo. Se rendendo, se corrompendo e pecando. Seria tão grave assim seu pecado? Pensou por um milésimo de segundo e no instante seguinte pedia perdão por ser fraco, as lágrimas escorrendo por seu rosto enquanto seus joelhos tocavam o chão, em seu último ato de submissão. Sua luz cada vez mais fraca enquanto as lágrimas caíam no chão. Sua luz sumindo... Até que simplesmente se apagou.
                Aquele foi o último tapa, o último golpe que o agressor desferiu contra seu protegido, pois no instante seguinte tudo era fogo e o fogo se tornara tudo, consumindo e queimando o corpo daquele que agora gritava. Seus olhos estavam tingidos, de vermelho-sangue do ódio e seu coração chorava baixinho por sua corrupção, mas não importava.

                Virou-se, o calor das chamas não lhe afetando e apenas fitou seu precioso, encolhido contra a parede, tremendo de medo de tudo que estava acontecendo. Abriu os braços, o vermelho dos olhos sumindo e dando lugar ao seu azul tão acalentador, sorriu para aquele ser maravilhosamente sujo em um chamado delicado, em um “Está tudo bem” que não precisava ser proferido.

                Suspirou ao sentir o calor dele no seu e abraçou-o, tão forte quanto era capaz. E em seguida chorou, de amor, de tristeza e de felicidade. Suas lágrimas trazendo paz àquela alma tão atormentada. Porque tinha que ser assim? Pensou enquanto apertava-o mais contra si, querendo gravar em sua essência cada centímetro de pele daquele ser, querendo fundi-lo a si para jamais o perder. Pena que seu tempo era tão curto.

                Era um caído e como tal seria destruído em breve, enviado ao inferno como assassino que era, mas naquela hora não se importou. Naquela hora, só lhe importava a respiração calma que batia contra sua pele e o sorriso doce que tomava os lábios daquele ser em seus braços. Naquela hora só importava que aquela criatura frágil sentisse seu amor, que se alimentasse dele, que se purificasse nele. Seu intenso, proibido e acima de tudo efêmero amor.

Pois este não tardaria a sumir. 
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