Colcha de memórias.

Posted by Carol Riff On 28.4.12 0 comentários
                   Às vezes, em momentos um tanto inusitados, me perco em devaneios sobre a vida, sobre quem eu fui, sou e ainda serei. Pois afinal, o que sou eu senão uma grande colcha de retalhos, costurada ao longo dos anos de forma única, uma junção de muitas estampas, uma coleção de muitas memórias boas e ruins que tornam minha existência bela e rara, além de única.

                   Não peco ao dizer que se olhar tudo pelo qual já passei, saberá quem eu sou e também não peco ao falar que muitas dessas memórias que fazem parte de mim, zarparam no barco da minha vida sem qualquer permissão.

                   Há muitas dores que eu, por vezes, quero arrancar de mim, mas quando penso melhor, vejo que por mais lacerantes que estas sejam, serão sempre uma fonte de grande aprendizado. Pois não vivem dizendo que a vida nunca te dá um peso maior do que aquele que você consegue suportar?

                   E novamente, mesmo que tenham me trazido algum dissabor, elas continuam sendo partes lindas da minha colcha de retalhos, bem como partes de mim, da minha vida e da minha alma, que juntas formam uma história ímpar a qual eu escrevo na medida do possível.

Uma vez que a maioria dos textos tende a criar vida própria.

                   Uma linda história, sobre uma pequena criatura que não sabe nada da vida e sua inseparável companheira.

Sua brilhante e valiosa colcha de memórias.
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My heart is not broken.

Posted by Carol Riff On 27.4.12 0 comentários

            A menina entrou na sala e fechou a porta com força, a respiração ofegante de alguém que havia corrido por uns bons minutos. Encostou-se a porta, deixando o corpo escorregar por esta mesma até que estivesse no chão. Respirou fundo, tirando os óculos de armação negra e larga do rosto, a mão tremendo sofrivelmente e as lágrimas que tanto segurara finalmente transbordando.

            Suprimiu os soluços dolorosos que tentavam irromper de sua garganta, não choraria daquela forma, pensou. Não daria a ele exatamente o que ele queria. Podia estar quebrada e magoada, mas seu orgulho se tornaria o pilar substituto que ficara após a demolição de sua confiança.

            As palavras cruéis do outro ainda ecoando em sua cabeça como uma canção macabra, as risadas dos amigos dele e o deboche estampado em seus rosto marcado a ferro em sua memória. Nunca havia se sentido tão pequena e boba, tão idiota e insignificante! Apertou a saia com força, a raiva por conta da humilhação tomando conta de si de forma avassaladora. Berrou alto, sabendo que ninguém ia lhe ouvir, por conta do isolamento acústico que a sala tinha.

            Ergueu-se, ainda sentindo suas pernas tremerem um pouco. No rosto, o rastro do lápis preto que colocara de manhã apenas para parecer mais bonita. Fitou-se no espelho do local, os olhos vermelhos, a maquiagem borrada e a boca inchada. Sorriu amargamente diante da própria aparência, mas não se ateve ao fato, desviando seu olhar para o piano negro que a sala continha.

            Caminhou a passos lentos até o mesmo, os dedos escorregando delicadamente por cada tecla, enquanto um meio sorriso surgia em seus lábios. Sentou-se diante do mesmo, tocando uma das teclas e apreciando o som que lhe trazia um pouco de paz. Fechou os olhos, enquanto os dedos pareciam ganhar vida e passear por conta própria sobre as teclas do piano tecendo uma melodia calma e melancólica.

            Lembrou-se dos últimos acontecimentos, a música se tornando mais forte, mais agoniada, as teclas pressionadas com ainda mais força. Os dedos se movendo habilmente, preenchendo a sala do som que trazia uma aquarela de significados. Jogou a cabeça para trás, o ritmo guiando seu corpo e confortando sua alma, um sorriso doce e calmo nascendo em seus lábios.

            Imersa na melodia, nem sequer ouviu quando a porta da sala foi aberta de supetão, fazendo um alto barulho. O menino parou diante do piano, igualmente ofegante, sorrindo ao notar a expressão serena no rosto da menina. Puxou uma cadeira e assim ficou, admirando o quanto ela era bela daquela forma, o quanto ela parecia forte e confiante enquanto estava atrás daquele piano!

            Quando a música finalmente findou, se entreolharam, não precisando das palavras para entenderem tudo que havia acontecido. E ali mesmo, sem nem proferir nada, firmaram uma promessa, enlaçando os dedos mindinhos com sorrisos calmos.

            Quando o grande dia finalmente chegou, ela não podia estar mais nervosa, as mãos tremendo e a voz ameaçando falhar, mas ele, como sempre, estava ali para lhe tranqüilizar. Disse-lhe palavras de conforto e lembrou-lhe de quanto trabalho haviam tido para chegar ali, afirmando sempre que não iam desistir. Ela assentiu, sentindo um arrepio quando seu nome foi chamado.

            Subiu ao palco, o vestido azul claro com alguns brilhantes reluzindo às luzes do palco. Passou os olhos pela platéia por um momento só, notando o mesmo olhar debochado de antes, mas encontrando logo em seguida o olhar cálido daquele que estivera sempre com ela. Que a impedira de cair no abismo, segurando firme sua mão.

            Respirou fundo quando as luzes se apagaram e deixou os dedos deslizarem pelas teclas brancas. Sorriu e fechou os olhos, perdendo-se no ritmo que ela mesma criou, enquanto sua voz ganhava espaço, abrindo as bocas de muitos que a assistiam, inclusive as dele. Abstraiu todo o universo a sua volta, cantando com seu coração e alma, lembrando de tudo que acontecera, de tudo pelo que lutara e de tudo pelo que passara.

Aquele era seu momento.

            Terminou a música apenas com sua voz, ouvindo a chuva de aplausos que caiu sobre ela assim que luz novamente se apagou. Levantou-se, a emoção tomando conta de si e as lágrimas querendo novamente sair. Reprimiu-as, não querendo borrar sua maquiagem e apenas fez uma reverência, sentindo sua alma lavada ao olhar o rosto tão conhecido agora com um olhar extremamente incrédulo, de alguém que não acreditava no que tinha visto e de que se arrependera do que tinha feito.
Sorriu abertamente para ele, piscando levemente para o menino do sorriso gentil que se encontrava atrás de suas cortinas, murmurando um agradecimento repleto de emoção.

Ali, naquele momento ao som dos aplausos, não mais se sentia pequena e insignificante. Ali as palavras cruéis e o deboche se tornavam ínfimos demais para serem notados e o pilar de sua confiança era finalmente restaurado, feito de um material tão forte e resistente que nada seria capaz de quebrá-lo novamente.

Ali, seu coração quebrado, finalmente voltava a ser inteiro.
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Gomenasai for everything

Posted by Carol Riff On 6.4.12 0 comentários

Dói, arde como os olhos após longas horas de choro intenso. Dói pensar em si mesmo como um estorvo, dói, tentar de todas as formas ajudar e nunca ser o bastante. Pesa sobre a alma a sensação de nunca estar fazendo certo. Dói não ser exatamente o que você queria, não te orgulhar tanto quanto eu gostaria, não ser forte que nem eu deveria ser, nem tampouco orgulhosa o suficiente.
Te juro que eu queria ser a melhor, mas nem tudo está ao meu alcance.
Dói ver você mal e não ser capaz de fazer nada, agonia e queima por dentro cada vez que eu penso nos números que tiram o teu sono todo final de mês. E a única coisa que eu posso fazer é pedir desculpas.

Desculpa por não ser a melhor, por não saber o que fazer, por chorar por qualquer coisa, por fazer as perguntas erradas nas horas erradas e por viver decepcionando você. Porque essa era a única coisa que eu não queria fazer. Mas não deu muito certo né?
Me desculpe por não ser como você esperava. Por não ser igual a você.

Me desculpe.
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