Espelho

Posted by Carol Riff On 26.10.13 0 comentários
Todos os dias me escondo, mascaro-me, renego-me. Todos os dias maqueio-me por fora e por dentro, escondo meus medos, meu pior, minha inveja, meu fel, dentro dos meus sorrisos. Escondo meu cansaço debaixo de minha maquiagem, varro minhas inseguranças para debaixo do tapete de forma pífia, pois elas sempre voltam a me assombrar.

Todo dia, tento parecer o melhor de mim. Mesmo que o que me rodeie seja o pior.

Escondo-me atrás de minhas roupas, atrás de minhas atitudes, mascaro minha dor com as coisas simples, deixo longe de todos o meu pior e mais escuro lado. Todos os dias enfrento de cabeça erguida tudo, mesmo que por dentro seja consumida por mil e um fantasmas que jamais vão me abandonar.

Todos os dias, evito o espelho. Evito minha imagem refletida atrás do vidro. Evito minhas marcas, evito me encarar, evito porque sei que de todos os complexos, Narciso não é o meu. Evito-o porque ele e eu somos capazes de encontrar as rachaduras da armadura que construo ao meu redor. Pois é nele que me vejo, sem maquiagem, ao acordar. É nele que noto que mesmo a maquiagem não pode esconder certas coisas,  é nele que me vejo diante de mim.

E isso é aterrador. Aterrador porque não há ninguém além do espelho. Apenas eu. Apenas a minha imagem refletida. Não há ninguém que possa mudá-la se não eu. Ninguém que possa fazer da maquiagem permanente, ninguém além de mim. Ninguém pode curar as feridas, as rachaduras, as dores e o meu pior. Ninguém se não eu. E assusto-me porque sou tão forte quanto fraca, sou o atrás e o à frente do espelho. O que sofre e o que faz. E o responsável por fazer. Sou a responsável por tirar a máscara e por aceitar todo o resto. Sou o ser vivente na frente do espelho.

Todos os dias me olho no espelho.
Buscando por um dia em que fazê-lo me fará sorrir.
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