Efêmero

Posted by Carol Riff On 28.12.12 0 comentários

Observava-o de longe, os olhos claros transbordando devoção, tão grande que chegava a ser proibida, doentia. Seus olhos não largavam a figura dele, não deixavam-no ir. A figura frágil do garoto apanhando lhe ferindo a alma e incitando a raiva e o ódio que seu ser angélico jamais deveria ter.
               
Queria protegê-lo, mas não somente, queria mais. Queria abraçá-lo, amar aquela existência que fizera da sua tão mais viva, queria mais. Queria, como nunca antes cometer um pecado, se sujar no fel daquele ser, unicamente por amor. Queria mais.
               
Era um escolhido de Nathaniel, escolhido a dedo pelo próprio luminoso, que estava perdendo sua luz, apagando-se pouco a pouco. Como uma tela branca que se torna turva, sua pureza sendo maculada a cada segundo, sem que, pudesse evitar. Sua natureza havia sido cruelmente alterada pela magia mundana daquele ser, daquele humano, daquela alma sofredora que lhe cativava sem saber

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas...

                Mas ora, como poderia um humano ser responsável por seu próprio anjo da guarda? Onde já se viu tamanha heresia?!  Era um anjo, da casta dos mais puros e inocentes, mas, no entanto, estava caindo. Se rendendo, se corrompendo e pecando. Seria tão grave assim seu pecado? Pensou por um milésimo de segundo e no instante seguinte pedia perdão por ser fraco, as lágrimas escorrendo por seu rosto enquanto seus joelhos tocavam o chão, em seu último ato de submissão. Sua luz cada vez mais fraca enquanto as lágrimas caíam no chão. Sua luz sumindo... Até que simplesmente se apagou.
                Aquele foi o último tapa, o último golpe que o agressor desferiu contra seu protegido, pois no instante seguinte tudo era fogo e o fogo se tornara tudo, consumindo e queimando o corpo daquele que agora gritava. Seus olhos estavam tingidos, de vermelho-sangue do ódio e seu coração chorava baixinho por sua corrupção, mas não importava.

                Virou-se, o calor das chamas não lhe afetando e apenas fitou seu precioso, encolhido contra a parede, tremendo de medo de tudo que estava acontecendo. Abriu os braços, o vermelho dos olhos sumindo e dando lugar ao seu azul tão acalentador, sorriu para aquele ser maravilhosamente sujo em um chamado delicado, em um “Está tudo bem” que não precisava ser proferido.

                Suspirou ao sentir o calor dele no seu e abraçou-o, tão forte quanto era capaz. E em seguida chorou, de amor, de tristeza e de felicidade. Suas lágrimas trazendo paz àquela alma tão atormentada. Porque tinha que ser assim? Pensou enquanto apertava-o mais contra si, querendo gravar em sua essência cada centímetro de pele daquele ser, querendo fundi-lo a si para jamais o perder. Pena que seu tempo era tão curto.

                Era um caído e como tal seria destruído em breve, enviado ao inferno como assassino que era, mas naquela hora não se importou. Naquela hora, só lhe importava a respiração calma que batia contra sua pele e o sorriso doce que tomava os lábios daquele ser em seus braços. Naquela hora só importava que aquela criatura frágil sentisse seu amor, que se alimentasse dele, que se purificasse nele. Seu intenso, proibido e acima de tudo efêmero amor.

Pois este não tardaria a sumir. 
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Special

Posted by Carol Riff On 12.10.12 0 comentários

                Entrou em casa largando o molho de chaves pesado sobre a mesa de vidro e suspirou. Sentia-se tão frágil. Sentiu os olhos se enchendo de lágrimas sem nem saber o porque. Só sentia aquele algo vindo de dentro de si, um grito que estivera entalado tanto tempo, guardado em sua alma e agora se liberava, na forma das gotas que lhe escorriam pelo rosto como facas.

                Ouvia as vozes dos parentes vindas de outro cômodo, ouvia a forma como riam, como pareciam desfrutar dos momentos e apenas se esquivou, entrando em seu quarto rapidamente, caminhando como um vulto, sem nem sequer ser notada por eles, de tão absorto que estavam em sua própria felicidade.

                Fitou-se no espelho do quarto e só pôde sorrir amargamente. Era uma sombra, um resquício ridículo do que um dia fora e simplesmente não sabia o que fazer. Sentia-se tão sozinha, tão abandonada que até mesmo respirar se tornara difícil. Quando as coisas haviam se tornado assim? Quando tudo se tornara tão pesado? Quando viver havia se tornado um tormento e não mais uma benção?

                Não sabia precisar, só sabia que toda a magia que seus dias outrora tinham estava sumindo pouco a pouco, escapando-lhe entre os dedos, sem que pudesse agarrar. Deixou o corpo se encostar na parede e lentamente caiu, chegando ao chão em alguns segundos. O lápis já borrado, manchando o rosto bonito que sempre havia sido adornado por um sorriso. Um sorriso radiante e lindo.  Que havia simplesmente... Se perdido por aí.

                Abraçou os próprios joelhos sentindo o peito arder. Ah a dor... A rotineira companheira, antes aplacada por coisas banais, que agora matava-a pouco a pouco, tirava suas forças e apenas dava um jeito de tornar tudo pior. Cerrou os olhos com força e se escondeu, encolhendo-se tanto como se quisesse sumir, sabendo que isso não era possível. Doía tanto! Doía tanto estar só!

Não chore!

                Uma voz fina e doce pode ser ouvida e ela então conteve os soluços por algum segundo. Quem era? Perguntou ainda escondida de si mesma e sentiu um carinho delicado em seu cabelo preto, um afago delicado repleto de amor. 
                Lentamente, a dor foi passando e suas lágrimas foram cessando, secando enquanto aquela tempestade dentro de si se acalmava, a tsunami se tornando uma marola agradável, daquelas gostosas de se sentir a beira-mar. Devagarinho abriu seus olhos encontrando uma garota baixinha com bochechas gordinhas que ela teve vontade de apertar, sorrindo-lhe genuinamente enquanto estendia sua mão pequena em sua direção.

                E então mesmo sem entender muito bem pegou a mão da menina, sentindo quando ela a puxou para cima, fazendo-a se levantar. A garotinha, que ainda segurava sua mão fez com ela se virasse na direção do espelho apontando com o dedo pequenino a imagem para que ela própria pudesse ver.

E novamente seus olhos se encheram de lágrimas.

                No espelho, quase como se fosse uma foto ela estava lá, cercado de todas as pessoas que lhe amavam, que lhe amparavam e lhe ajudavam a se reerguer, segurando-a para que não caísse novamente.  Prendeu um soluço profundo e apertou os dedos pequenos contra os seus, fitando a garotinha que continuava com um sorriso no rosto para logo em seguida abraçá-la com toda força que podia, separando-se apenas para perguntar seu nome. Notando que ela simplesmente não estava mais lá.

E quando decidiu procurar pela mesma sentiu algo duro contra o rosto, reclamando de dor ao notar que caíra da cama, aonde provavelmente adormecera. Fora tudo um sonho? Apenas um sonho? Respirou fundo e antes que pudesse entender melhor a situação viu o quarto sendo invadido por sua família e amigos que lhe parabenizavam, enchendo-a de amor, carinho e proteção enquanto a última frase que ouvira da menininha ecoava em seus ouvidos.

Não duvide jamais que você é especial . 



I wanna dance the night away with you

I wanna love because you taught me to
I wanna laugh all your tears away

I wanna tell you and this is the only way I know

And hope one day you’ll learn the words and say

Ficou uma bosta mas é pra você menina, pra você saber o quanto você é especial. *u* ~Yá 
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Estrelas

Posted by Carol Riff On 7.9.12 0 comentários
Talvez eu esteja sendo dramática mas como sempre, minhas emoções passeiam em minha pele, alma e coração, e terminam traduzidas em minhas singelas palavras que, humildes se unem para tentar explicar algo que eu mesma não sou capaz de entender.

É nas folhas de um caderno que retomo minha paz, é nos sentimentos tomando forma e no barulho gostoso da caneta riscando o papel que encontro minha melodia favorita. Excêntrica e única.


É chorando e temendo que encontro minha coragem, que vem lá do fundo, como uma luz irrompendo por dentro de uma densa escuridão. É depois de minha própria tormenta, em minha calmaria, que encontro meu lado forte, guardado sempre dentro do pequeno lado frágil. É da minha natureza cair e me levantar, não desistir e sempre ir a frente.

É da minha natureza também, ser inocente, colorir o mundo de boas intenções que às vezes são feitas dos mais densos tons de cinza, faz ´parte de mim chorar minhas lágrimas e as dos outros,  gritar muda sem nem perceber.

Hoje gritei, em um total silêncio, para mim mesma de medo, puro e simples. Gritei em minha alma, em meu âmago, naquele pedacinho perdido que fica a deriva. Gritei para que só eu pudesse ouvir e talvez tenha me escondido dentro de mim mesma, até que uma mão foi estendida.

E o calor reconfortante de um ombro amigo se fez sentir, mesmo que em um sentido dolorosamente figurado. Como em um amanhecer, belo e desafiador, que marca o começo de um novo dia e a tomadas de novos rumos, senti-me crescer em meu interior. O calor se estendendo por todos os lados e me tornando gigante.


Gigante o suficiente para resgatar minha coragem, que julguei ter perdido, e para sorrir mesmo estando diante de um grande desafio capaz de me fazer tremer. Me armarei e me prepararei, sendo ciente de meu medo e estando preparada para enfrentá-lo de peito aberto, para cair, levantar, sorrir e chorar.

E então poder ver quem sabe, um céu cheio de estrelas após um longo dia difícil.
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Cinzas

Posted by Carol Riff On 6.8.12 1 comentários
          Rabiscou o papel sem muito interesse bufando em seguida. O café fumegante sobre a mesa, ao alcance de suas mãos pálidas enquanto a chuva batia forte em sua janela. No papel o começo de um desenho, um rosto sem expressão nenhuma emoldurado por cabelos longos e escuros que ela simplesmente não conseguia terminar. Podia chorar de frustração, fazia tanto tempo assim desde que fazia aquilo?

          Pensou nos últimos meses e pensou também no quanto estava cansada, no quanto sua vida havia se tornado difícil. Quem tivera a brilhante idéia de mascarar o lado mais feio da vida e só mostrá-lo agora? Sentia-se tão fraca e cansada que às vezes tinha vontade de sentar e chorar, mas sabia que não podia. Havia passado da época de chorar por qualquer coisa, os anos haviam passado e ela agora era uma mulher adulta. Adultos deveriam enfrentar seus problemas de frente não?

Porque raios parecia tão difícil?

          Fitou novamente o rosto sem expressão se lembrando de seus últimos desenhos antes de sua vida se tornar um caos. Eram todos sorridentes e tinham olhos brilhantes e esperançosos. Porque simplesmente não podia resgatá-los? Aonde seus sorrisos haviam se perdido? Quando respirar havia se tornado tão complicado e exaustivo? Quando havia se tornado tão amarga? Não sabia ao certo precisar, só sabia que estava insuportável, ao ponto de não aturar a si mesma.

          Largou o lápis com raiva e deitou-se brevemente sobre a mesa, as pálpebras pesando e se fechando lentamente. Sem perceber acabou dormindo...
Acordou com os raios de sol incomodando-a e resmungou qualquer coisa, extremamente irritada, esquecera a porcaria da cortina aberta! Abriu os olhos e se ergueu, assustando-se em seguida quando percebeu que não estava mais em sua sala monocromática, mas sim em um campo aberto com flores tão amarelas que seriam capazes de ofuscar-lhe a vista. O que havia acontecido? Moveu-se incerta notando que seus pés estavam descalços e o cabelo antes preso solto, balançando ao sabor do vento bem como o vestido branco que usava.

          Caminhou por um bom tempo, imersa na sensação de paz que aquele lugar lhe trazia. As flores dançando levemente junto a brisa e em um dado momento ela pôde jurar que uma música havia começado a tocar, vinda sabe-se lá de onde. Não era possível determinar, apenas ouvir. Fechou os olhos por alguns segundos, sentindo cada acorde da melodia entrar em si e tocar o ponto mais fundo de seu ser. Sorriu abertamente e assim ficou até sentir um toque gelado em seu pulso abrindo os olhos rapidamente devido ao susto acabando por assustar a pessoa que lhe tocara.

          A menina virou-se e apenas saiu correndo e ela sem pensar muito saiu em seu encalço, seguindo o rastro que os cabelos cor de ébano deixavam conforme a garota se mexia, procurando sumir entre todas aquelas flores. Queria gritar-lhe para parar de correr, mas por algum motivo sua voz não saía então apenas continuou correndo, notando que conforme se afastavam, as flores se tornavam menos amarelas e as cores pareciam sumir gradativamente.

          Demorou um tempo para que ela finalmente parasse de correr, as cores agora haviam sumido e o lugar parecia estranhamente silencioso, tanto que dava até agonia. A garota apenas apontou e seus olhos rapidamente seguiram a direção se arregalando com o que viram. Ali, no meio de todo aquele cinza, havia apenas um ponto colorido. Uma pequena flor amarela quase murcha que parecia lutar para sobreviver.

          Sem perguntar nada se aproximou, agachando-se do lado da flor e sentindo um estranho aperto no coração quase uma tristeza. Virou-se na direção da garota e se assustou novamente quando esta se abaixou ao seu lado, o cabelo cobrindo-lhe a expressão enquanto os dedos finos tocavam a flor tão frágil que parecia prestes a quebrar. Sentiu-se triste por ela e tocou de leve o ombro, vendo-a se assustar erguer a cabeça em sua direção. Subitamente sentiu seus olhos arderem e os coçou, vendo a menina se transformar em um grande borrão.

          “Está lutando bravamente para não ceder, mas ainda mantém sua luz...” –A voz soou baixa em seus ouvidos, como um sussurro e arrepiou todos os pelos de seu corpo. Quando abriu os olhos de novo suprimiu um grito de susto. A menina estava parada a sua frente e os olhos negros tão iguais aos seus estavam vidrados nos seus enquanto um sorriso travesso brincava em sua face. “Cuide bem de mim...” e em seguida tudo se transformou em um grande clarão.

          Acordou num sobressalto, derrubando todos os papéis que estavam sobre a mesa. Respirava ofegante, ainda afetada pelo sonho. Buscou os papéis no chão, remexendo-os freneticamente até encontrar seu último desenho incompleto, ainda sem nenhuma expressão. Fitou-os por alguns segundos e logo recomeçou a rabiscar mordendo a língua de leve enquanto deixava o grafite sujar o papel.


         Quando finalmente acabou, um sorriso travesso brincava em seu rosto. A menina agora tinha uma expressão, nem triste tampouco alegre demais. No rosto dela havia um sorriso tranqüilo enquanto seus olhos passavam determinação e até certo cansaço, assim como a expressão de que alguém que luta, mas se recusa a desistir, crendo que tudo dará no certo no final.

          A vida podia ser difícil e cruel na maioria das vezes, cansando-a e ofuscando sua luz e sua inocência, mas ela sabia ah se sabia, não iria deixar ambas morrerem por mais complicado que fosse de cuidar. Por mais árdua que a vida fosse, jamais deixaria que ela vencesse porque aquele era um jogo para dois e ela podia não ser a melhor jogadora, mas certamente era aquela que não desistia.
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A dor da impotência.

Posted by Carol Riff On 18.5.12 0 comentários
Impotência é uma palavra irritante. Denota falta de movimento, incapacidade e faz com que eu me sinta só um pedaço de ossos e músculos inúteis. E impotente é como eu me sinto agora, com vontade de ajudar uma pessoa que eu gosto muito mas sem no entanto poder fazê-lo. Assim como essa pessoa é impotente em trazer de volta alguém precioso que perdeu.

Me contorço de vontade de gritar o quanto certas coisas são injustas mas todos sabemos que a vida é uma caixinha de surpresas. O único problema é que essas "surpresas" não são que nem as que nós tínhamos quando éramos crianças, quando nossos pais chegavam com um brinquedo novo não planejado... Não, certamente não são, as vezes, elas são como uma grande bomba atômica, daquelas que deixam um cogumelo de fumaça no céu.

Uma grande bomba de merda. 

E que na maioria das vezes não se pode impedir. Um grande colapso avassalador que sai destruindo tudo que encontra em seu caminho. E novamente nos vemos impotentes diante de toda a destruição... É difícil e amargo mas é algo que temos que aceitar, porque a vida é injusta e nossas lágrimas ainda vão cair por muitos motivos diferentes.

Que bom que existem os amigos né?

Não me importo se isso aí de cima ficou confuso, a questão é que isso é mais um desabafo diante de uma notícia que me choca e mata uma parte de um grande amigo meu, sendo algo que ninguém pode impedir ou mudar. Tudo que eu mais queria era poder abraçar essa pessoa, mas ela está longe então só posso rezar com todo meu coração para que essa dor que ele está sentindo agora diminua até que só restem coisas boas para se lembrar.

Força Matheus...R.I.P Estrela ~ Mais uma que surge no céu. Um bichinho adorável que eu nem conheci, mas que certamente marcou todos que conviveram com ela.
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Colcha de memórias.

Posted by Carol Riff On 28.4.12 0 comentários
                   Às vezes, em momentos um tanto inusitados, me perco em devaneios sobre a vida, sobre quem eu fui, sou e ainda serei. Pois afinal, o que sou eu senão uma grande colcha de retalhos, costurada ao longo dos anos de forma única, uma junção de muitas estampas, uma coleção de muitas memórias boas e ruins que tornam minha existência bela e rara, além de única.

                   Não peco ao dizer que se olhar tudo pelo qual já passei, saberá quem eu sou e também não peco ao falar que muitas dessas memórias que fazem parte de mim, zarparam no barco da minha vida sem qualquer permissão.

                   Há muitas dores que eu, por vezes, quero arrancar de mim, mas quando penso melhor, vejo que por mais lacerantes que estas sejam, serão sempre uma fonte de grande aprendizado. Pois não vivem dizendo que a vida nunca te dá um peso maior do que aquele que você consegue suportar?

                   E novamente, mesmo que tenham me trazido algum dissabor, elas continuam sendo partes lindas da minha colcha de retalhos, bem como partes de mim, da minha vida e da minha alma, que juntas formam uma história ímpar a qual eu escrevo na medida do possível.

Uma vez que a maioria dos textos tende a criar vida própria.

                   Uma linda história, sobre uma pequena criatura que não sabe nada da vida e sua inseparável companheira.

Sua brilhante e valiosa colcha de memórias.
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My heart is not broken.

Posted by Carol Riff On 27.4.12 0 comentários

            A menina entrou na sala e fechou a porta com força, a respiração ofegante de alguém que havia corrido por uns bons minutos. Encostou-se a porta, deixando o corpo escorregar por esta mesma até que estivesse no chão. Respirou fundo, tirando os óculos de armação negra e larga do rosto, a mão tremendo sofrivelmente e as lágrimas que tanto segurara finalmente transbordando.

            Suprimiu os soluços dolorosos que tentavam irromper de sua garganta, não choraria daquela forma, pensou. Não daria a ele exatamente o que ele queria. Podia estar quebrada e magoada, mas seu orgulho se tornaria o pilar substituto que ficara após a demolição de sua confiança.

            As palavras cruéis do outro ainda ecoando em sua cabeça como uma canção macabra, as risadas dos amigos dele e o deboche estampado em seus rosto marcado a ferro em sua memória. Nunca havia se sentido tão pequena e boba, tão idiota e insignificante! Apertou a saia com força, a raiva por conta da humilhação tomando conta de si de forma avassaladora. Berrou alto, sabendo que ninguém ia lhe ouvir, por conta do isolamento acústico que a sala tinha.

            Ergueu-se, ainda sentindo suas pernas tremerem um pouco. No rosto, o rastro do lápis preto que colocara de manhã apenas para parecer mais bonita. Fitou-se no espelho do local, os olhos vermelhos, a maquiagem borrada e a boca inchada. Sorriu amargamente diante da própria aparência, mas não se ateve ao fato, desviando seu olhar para o piano negro que a sala continha.

            Caminhou a passos lentos até o mesmo, os dedos escorregando delicadamente por cada tecla, enquanto um meio sorriso surgia em seus lábios. Sentou-se diante do mesmo, tocando uma das teclas e apreciando o som que lhe trazia um pouco de paz. Fechou os olhos, enquanto os dedos pareciam ganhar vida e passear por conta própria sobre as teclas do piano tecendo uma melodia calma e melancólica.

            Lembrou-se dos últimos acontecimentos, a música se tornando mais forte, mais agoniada, as teclas pressionadas com ainda mais força. Os dedos se movendo habilmente, preenchendo a sala do som que trazia uma aquarela de significados. Jogou a cabeça para trás, o ritmo guiando seu corpo e confortando sua alma, um sorriso doce e calmo nascendo em seus lábios.

            Imersa na melodia, nem sequer ouviu quando a porta da sala foi aberta de supetão, fazendo um alto barulho. O menino parou diante do piano, igualmente ofegante, sorrindo ao notar a expressão serena no rosto da menina. Puxou uma cadeira e assim ficou, admirando o quanto ela era bela daquela forma, o quanto ela parecia forte e confiante enquanto estava atrás daquele piano!

            Quando a música finalmente findou, se entreolharam, não precisando das palavras para entenderem tudo que havia acontecido. E ali mesmo, sem nem proferir nada, firmaram uma promessa, enlaçando os dedos mindinhos com sorrisos calmos.

            Quando o grande dia finalmente chegou, ela não podia estar mais nervosa, as mãos tremendo e a voz ameaçando falhar, mas ele, como sempre, estava ali para lhe tranqüilizar. Disse-lhe palavras de conforto e lembrou-lhe de quanto trabalho haviam tido para chegar ali, afirmando sempre que não iam desistir. Ela assentiu, sentindo um arrepio quando seu nome foi chamado.

            Subiu ao palco, o vestido azul claro com alguns brilhantes reluzindo às luzes do palco. Passou os olhos pela platéia por um momento só, notando o mesmo olhar debochado de antes, mas encontrando logo em seguida o olhar cálido daquele que estivera sempre com ela. Que a impedira de cair no abismo, segurando firme sua mão.

            Respirou fundo quando as luzes se apagaram e deixou os dedos deslizarem pelas teclas brancas. Sorriu e fechou os olhos, perdendo-se no ritmo que ela mesma criou, enquanto sua voz ganhava espaço, abrindo as bocas de muitos que a assistiam, inclusive as dele. Abstraiu todo o universo a sua volta, cantando com seu coração e alma, lembrando de tudo que acontecera, de tudo pelo que lutara e de tudo pelo que passara.

Aquele era seu momento.

            Terminou a música apenas com sua voz, ouvindo a chuva de aplausos que caiu sobre ela assim que luz novamente se apagou. Levantou-se, a emoção tomando conta de si e as lágrimas querendo novamente sair. Reprimiu-as, não querendo borrar sua maquiagem e apenas fez uma reverência, sentindo sua alma lavada ao olhar o rosto tão conhecido agora com um olhar extremamente incrédulo, de alguém que não acreditava no que tinha visto e de que se arrependera do que tinha feito.
Sorriu abertamente para ele, piscando levemente para o menino do sorriso gentil que se encontrava atrás de suas cortinas, murmurando um agradecimento repleto de emoção.

Ali, naquele momento ao som dos aplausos, não mais se sentia pequena e insignificante. Ali as palavras cruéis e o deboche se tornavam ínfimos demais para serem notados e o pilar de sua confiança era finalmente restaurado, feito de um material tão forte e resistente que nada seria capaz de quebrá-lo novamente.

Ali, seu coração quebrado, finalmente voltava a ser inteiro.
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Gomenasai for everything

Posted by Carol Riff On 6.4.12 0 comentários

Dói, arde como os olhos após longas horas de choro intenso. Dói pensar em si mesmo como um estorvo, dói, tentar de todas as formas ajudar e nunca ser o bastante. Pesa sobre a alma a sensação de nunca estar fazendo certo. Dói não ser exatamente o que você queria, não te orgulhar tanto quanto eu gostaria, não ser forte que nem eu deveria ser, nem tampouco orgulhosa o suficiente.
Te juro que eu queria ser a melhor, mas nem tudo está ao meu alcance.
Dói ver você mal e não ser capaz de fazer nada, agonia e queima por dentro cada vez que eu penso nos números que tiram o teu sono todo final de mês. E a única coisa que eu posso fazer é pedir desculpas.

Desculpa por não ser a melhor, por não saber o que fazer, por chorar por qualquer coisa, por fazer as perguntas erradas nas horas erradas e por viver decepcionando você. Porque essa era a única coisa que eu não queria fazer. Mas não deu muito certo né?
Me desculpe por não ser como você esperava. Por não ser igual a você.

Me desculpe.
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O desafio de escrever para um ídolo.

Posted by Carol Riff On 22.1.12 0 comentários
O título pode parecer inusitado, mas é exatamente sobre isso que eu vou falar hoje. Primeiro, permitam-me explicar melhor. Em março, a banda que eu amo com todo o meu coração vai estar completando 10 anos de estrada e então umas meninas se reuniram para mandar um scrapbook com várias mensagens e fotos e tudo mais. Até aí tudo bem. O problema maior consistiu no seguinte fato : O limite eram 10 linhas.

Antes que venham me crucificar, eu não estou criticando o limite de linhas. Acho até muito coerente ou entregaríamos rolos dentro de caixas ao invés de cartas. O problema é justamente esse: Sintetizar tudo que você sente por um ídolo em apenas 10 linhas.

Já comentei muitas vezes sobre o chamado "amor de fã" e continuo dizendo que é um sentimento poderoso e inexplicável. Inexplicável sim, porque muitos acham incabível que pessoas consigam amar outras que nem sequer sabem de suas existências. Eu também, mesmo sendo fã de coração, acho esquisito e não vou saber explicar esse sentimento. A verdade é que ele existe e que está aqui e que me faz suspirar e até ir as lágrimas só de ouvir uma música ou de ver algum dvd com show. E que não vai mudar.

Voltando ao tema principal, eu me deparei com esse desafio (Muitos vão dizer que eu estou sendo dramática demais, mas para mim foi difícil SIM) de sintetizar toda a gama de sentimentos diferentes que eu tenho por eles em 10 linhas. A questão é que só de imaginar que eles vão ler isso e que (por ser traduzido) vão entender, eu já fico trêmula e altamente insegura quanto ao conteúdo da carta. Não quero parecer uma retardada, fan-girl histérica sem nada na cabeça, mas morro de medo de ser essa a impressão que vou passar.

Por fim, me contive MUITO nas minhas palavras e me limitei a dizer o quanto admiro o trabalho deles e toda sua perseverança durante todos esses anos que não foram nada fáceis para eles, falando também o quanto me orgulho de comparar as músicas antigas com as novas e notar um enorme progresso. Disse, de forma comedida, que os amo como músicos e como pessoas (Mesmo que não os conheça direito) e estou rezando para que eles fiquem felizes com a minha carta porque eu, mesmo não os conhecendo pessoalmente, os considero muito.

E bom, eu precisava botar para fora esse bolo na minha garganta. Imagino se sou a única que tem um amor tão grande assim ao ponto de ter que se controlar para não ter nenhum surto histérico ao escrever uma mensagem que será lida por todos eles. É difícil, mas eu escrevi com o meu coração, mais ou menos tudo que eles representam para mim.
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